A Revista Portuguesa de Investigação Educacional prossegue o seu labor de divulgar pesquisas realizadas sobre o campo da educação escolar, em Portugal, seja na âmbito da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica, seja no quadro de outras Universidades. Mais uma vez, este conjunto de artigos científicos permite-nos conhecer melhor, com mais profundidade e largueza de horizontes, a educação que tivemos, temos e podemos vir a ter. Abordam-se neste número temáticas que atravessam todos os graus de ensino e tipos de escolas, desde a educação de infância ao ensino superior, passando pelas escolas básicas e secundárias e pelas escolas profissionais, desde as questões do desenvolvimento de competências, do desenvolvimento da linguagem e da geração de expectativas escolares e profissionais, até à promoção do sucesso escolar, à auto-avaliação de escolas a ao papel dos mediadores educativos. Os artigos foram escritos na sequência de pesquisas científicas desenvolvidas em programas de mestrado e doutoramento, o que também se deve assinalar, pois valoriza estes programas enquanto espaços e tempos de reflexão amadurecida acerca da realidade educativa que nos cerca, sendo símbolos de uma crescente reflexividade existente entre os docentes das escolas básicas, secundárias e universitárias acerca das práticas educativas que quotidianamente se desenvolvem em Portugal. Como várias vezes temos aqui referido, nós precisamos de conhecer muito melhor, no que se refere à educação escolar e social, o terreno que pisamos. Constroem-se e divulgam-se (infelizmente a uma velocidade estonteante e com um impacto social assinalável) imagens acerca do que se passa, mas que pouco ou nada têm a ver com o que realmente se passa nas nossas escolas, centros de formação e demais instituições educativas. Geralmente, quem tem acesso aos media e os pretende usar para falar da educação que temos é quem não conhece a investigação e os seus resultados e quem não se preocupa em ir ao terreno e investir muito tempo e dinheiro a investigar com cuidado o que realmente se está a passar, com todo o respeito para com profissionais e instituições. É preciso observar e conhecer para depois re-conhecer, ou seja, valorizar o que realmente se está a passar, pessoas e instituições, projectos e dinâmicas e seus resultados. Há sobretudo muita ignorância e falta de respeito na maioria das afirmações categóricas e bombásticas que se fazem sobre a educação que tivemos e temos, mais típicas da linguagem-espectáculo dos media que usam, portanto de conteúdo moldado pelo meio, do que típicas de um conhecimento fundado sobre a observação dos factos, dos actores e das dinâmicas socioeducativas e escolares existentes. Corremos o risco de inundar o espaço público da educação com uma narrativa da educação que pouco representa o espaço público e que, ao desvalorizar os seus actores e instituições, sirva interesses particulares e mesquinhos e pouco sirva o interesse público e o bem comum. A educação de todas as pessoas, ao longo de toda a vida e com a vida é, por excelência, um bem comum. A educação escolar, representa, neste contexto, um bem inestimável, que não podemos desprezar e despedaçar com umas poucas afirmações espectaculares, sem dúvida, com muito eco mediático, mas incapazes de resistir à prova da observação dos factos e das dinâmicas escolares e educativas. As cadeiras de onde são proferidas, geralmente com reconhecimento social bastante, não lhes conferem automaticamente veracidade, embora lhes confiram bastante redundância. À melhoria da educação pouco ou nada aproveitam. O campo das ciências da educação, denegrido por estas práticas sociais, não pode nem deve usar os mesmos meios (é pelos meios que nos devemos humana e socialmente conhecer e reconhecer e não apenas e sobretudo pelos fins) nem recorrer às mesmas estratégias. Mas precisa de reflectir e aperfeiçoar os seus modos de presença no espaço público. O modesto contributo que esta Revista não desiste em expressar, com todas as limitações que ainda contém, a par de outras revistas e publicações científicas, carece de presença e de transfiguração no espaço público. A sua inscrição social e articulação com os variados actores sociais, instituições e interesses em presença no campo da educação escolar e social é um caminho que deve aperfeiçoado e perspectivado em moldes e segundo dinamismos consentâneos com a natureza sociocomunitária e a relevância social deste precioso bem comum. Um bem que já é que ainda não é. Que já exibimos, pelo tanto que já somos e possuímos, e que já sonhamos, pelo tanto que ainda não temos e que continuamos a ambicionar.
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