O dossiê do presente número de Humanística e Teologia é um contributo para o debate em curso sobre a Eutanásia. Entrar neste debate é um risco assumido de forma advertida. A atualidade é sempre contingente e fragmentária. O debate sobre a eutanásia revela-se particularmente ambíguo e necessitado de clarificação. A teologia, porém, não pode ter medo de descer ao quotidiano nem pode refugiar-se naquele que já é sabido.
Compete-lhe também iluminar o presente, com os riscos que essa opção comporta. Por isso, colocamos a questão em cima da mesa e pretendemos dar um contributo filosófico, bíblico, patrístico, espiritual e moral sobre o assunto. As pessoas interessadas encontrarão aqui uma visão plural, ou sinfónica, como deve ser a teologia. Esta é um saber que olha o passado da Escritura e da Tradição eclesial e o confronta com o presente da vida do povo de Deus e da sociedade em que nos é dado viver. Ora, em Portugal, temos entre mãos o debate sobre o sentido da vida no seu termo e sobre o melhor modo de viver os últimos momentos. É impossível não ter em conta o drama de muitas preferências axiológicas, éticas e morais que nos criam dificuldade e interrogações. Há mesmo em cima da mesa a possibilidade de vir a despenalizar a eutanásia.
Conhecemos a norma moral da Igreja, uma norma que proíbe a eutanásia, mas o nosso ponto de vista é mais do que afirmar a norma. É iluminar o sentido da morte e esperar dessa luz a possibilidade de uma regulação respeitadora daquilo que são as exigências morais para viver os últimos momentos. Esperamos que o contributo da Teologia possa ser frutuoso para serenar a confrontação e para aproximar os diversos pontos de vista. Afinal, a tarefa deviver é a única que pode fundar uma cidadania assente na liberdade responsável e crítica.
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