As questões de género podem ser vistas de diversos modos. Desde um ponto de vista teológico, o que nos ocorre, desde logo, é apreciar uma evolução moral da nossa cultura que vai na direção de dar ao ser humano a possibilidade de viver melhor a sua identidade, nunca acabada, e de poder ver-se acolhido de maneira mais harmónica nas instituições que lhe balizam a vida. Claro que as reivindicações de género não são apenas isto que se mostra a um olhar benevolente. A sua indefinição antropológica e o experimentalismo ético que as move, com frequência, levam por caminhos de insensatez e de contracultura. Diante disso, a teologia não pode deixar de lançar um olhar crítico e mesmo de desencadear uma oposição declarada. Se as reivindicações de género supõem um anulamento da diferença entre o feminino e o masculino e a afirmação de uma indiferenciação cinzenta dos indivíduos, então a teologia luta convictamente por um valor que, do seu ponto de vista, se encontra na constituição mais originária do mundo, ou seja, a diferença sexual, que é a primeira forma de comunicação e de aproximação entre os seres humanos. Esperamos que os textos que integram o dossiê deste volume possam dar um contributo para fazer pensar e para construir uma crítica lúcida do mundo em que vivemos. Com este número, a revista Humanística e Teologia despede-se dos seus leitores, após quatro décadas de publicação do trabalho teológico que se faz no Porto. Por deliberação da Faculdade de Teologia, desaparecem na sua forma costumada as revistas Theologica, Didaskalia e Humanística e Teologia, que têm sido publicadas respetivamente nas escolas integrantes da Faculdade, em Braga, Lisboa e Porto. Doravante, iniciará publicação uma revista comum, a Revista Portuguesa de Teologia, com igual periodicidade. A quem nos leu e acarinhou durante todos estes anos, agradecemos penhoradamente. E pedimos que deem as boas-vindas à nova revista, que leva sobre os seus ombros a tarefa de exprimir o melhoramento do trabalho teológico que se faz no nosso país.
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