Aprender é um bem e um dever de todas as pessoas. Todas as pessoas, sem exceção, estão aptas a expressar e a desenvolver a sua personalidade, seja qual for a idade, a situação de vida ou a condição física. As pessoas que se envolvem em processos formativos tornam-se mais ativas, mais resilientes e mais capazes de enfrentar os desafios do quotidiano. Aprender estimula a vida intelectual e a vida social, principalmente quando as experiências de formação são vividas em espírito de comunidade. Aprender em conjunto potencia as condições de saúde e bem-estar, investindo de alteridade os caminhos de realização humana. As situações de aprendizagem partilhada aproximam pessoas, gerações, culturas e tradições. Dizemos por isso que a educação desempenha um papel decisivo nos processos de desenvolvimento pessoal e sociocomunitário, devendo tornar-se num bem acessível a todos. O que, desde logo, implica uma atenção particular às pessoas que, sofrendo situações de privação e vulnerabilidade, enfrentam dificuldades especiais no exercício do seu dever de aprendizagem e do seu direito de formação. Ligada a um imperativo de solidariedade inalienável, esta atenção prioritária inscreve-se, porém, num projeto mais amplo e audacioso de promoção de verdadeiras culturas sociais de aprendizagem. A Pedagogia Social representa justamente o domínio de conhecimento que, valorizando a educação em toda a sua amplitude socio antropológica, permite enquadrar a pluralidade de experiências socio educacionais desenvolvidas em comunidade e numa perspetiva de formação ao longo da vida. Os textos agora publicados constituem uma boa expressão da diversidade constitutiva desta área científica. Evidenciando o lugar da mediação e da educação social na vida das escolas e dos alunos, o texto de Ana Vieira abre horizontes de reflexão essenciais ao nível da ligação necessária entre a pedagogia escolar e a pedagogia social. Uma linha de pensamento igualmente sublinhada por Maria João Peres a propósito do sucesso escolar na disciplina de Matemática. Por sua vez, José Pedro Amorim confronta-nos com os cenários de formação de adultos num quadro de aprendizagem ao longo da vida, identificando potencialidades e riscos associados aos dispositivos de reconhecimento de aprendizagens prévias. Tendo por base o contexto da (re)inserção socio laboral de reclusos em Nampula (Moçambique), os autores Fernando Canastra, Luís Gujamo e Ângela Magnino apresentam-nos novos desafios de investigação-ação numa ótica de desenvolvimento comunitário. Paulo Delgado descreve-nos um projeto sobre o acolhimento familiar de crianças e jovens em perigo desenvolvido no distrito do Porto (Portugal), salientando os traços essenciais desta medida, os atores que mobiliza e as mudanças possíveis ao nível da vida das crianças, das famílias e das comunidades. No ano europeu para o envelhecimento ativo, contamos com um conjunto significativo de textos dedicados a esta temática, o texto de Alexandra Carneiro sobre a animação sociocultural em contexto institucional para a terceira idade, o texto de Cristina Palmeirão e Isabel Menezes sobre atitudes perante as pessoas idosas, o texto de Cláudia Azevedo sobre os desafi os de convivência intergeracional e ainda o texto de Maria João Carvalho que alerta para a necessidade de um paradigma de cuidado ético no âmbito dos serviços de apoio domiciliário. As questões éticas ocupam, com efeito, um lugar incontornável quando temos em referência realidades humanas e sociais tão específicas e complexas. A reflexão proposta pelos autores Gastão Pereira Veloso e Adérito Barbosa constitui neste sentido um contributo precioso, ajudando a fundamentar uma racionalidade sociopedagógica indexada a valores de dádiva, gratuitidade e liberdade e alimentada por filosofias de alteridade, como, por exemplo, a filosofia ubuntu presente em vários países de África. Concebidos num quadro de hospitalidade académica e atestando a fecundidade reflexiva resultante do encontro entre diferentes abordagens, diferentes experiências, diferentes profissionais e diferentes investigadores, os textos que integram esta edição da revista Cadernos de Pedagogia Social patenteiam bem a diversidade constitutiva da Pedagogia Social enquanto campo plural de investigação e intervenção socioeducativa científica.
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