Recordando a entrevista… ao Professor Doutor José Miguel Sardica

O tempo passa, as boas memórias ficam
Professoras e professores da UCP recordaram livros e leituras no âmbito da iniciativa “Os Melhores Livros. As Melhores Leituras” promovida pela Livraria UCP entre 2013 e 2015.
Algumas dessas entrevistas são agora recuperadas pela UCP Editora.

Recordando a entrevista… ao Professor Doutor José Miguel Sardica, Historiador e Professor Associado com agregação da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa.

Quando desenvolveu o gosto pela leitura?

Acho que desde sempre, ou seja, a partir do momento em que aprendi a ler. Sempre gostei de livros e a leitura foi sempre um passatempo meu, antes de se tornar base de atividade profissional. Por educação ou por inclinação pessoal, gosto muito de ler e creio que os livros, de um modo geral, são um antídoto contra a solidão. Nunca se está sozinho quando se está a ler.

Que tipo de livros lê?

Leio sobretudo livros da minha área, a História Contemporânea, e de questões afins, de política, sociedade, cultura, além de muita imprensa, em papel ou online.
Naquilo a que chamo tempos livres, ou férias, aproveito para umas “escapadelas” intelectuais, por assim dizer, dedicando-me à leitura de alguns romances ou de alguns livros de história que leio como romances, fora da minha época ou temas de especialidade.

Dos vários escritores que teve oportunidade de ler, qual foi o que mais o marcou até hoje?

Aprecio muito a prosa, historiográfica e literária, do Século XIX português: Herculano, Oliveira Martins, Júlio Dinis, Eça de Queirós, etc.
Também leio com muito gosto Vitorino Nemésio (o Mau Tempo no Canal é obrigatório, e para mim aconteceu ser uma inspiração silenciosa para a minha Tese de Doutoramento sobre uma figura histórica faialense, o Duque de Ávila).
Entre os estrangeiros, gosto particularmente de Paul Auster e de David Lodge, entre outros, por serem dois autores com um olhar bem-humorado, mas ao mesmo tempo crítico e sarcástico do mundo em que vivemos.

Quais as obras que considera, até hoje, terem sido as melhores leituras que fez?

É muito difícil responder a essa questão, até porque muitas vezes os livros que elegemos têm que ver com o momento em que os lemos. O “melhor” livro que li depende muito da altura em que estamos a elaborar a lista, consoante a nossa memória ou a revisitação dos títulos.

Mas, fiel à minha área e recordando a minha licenciatura de História, que tinha quatro anos, guardo com saudade outros tantos livros (um por ano), que li enquanto estudante e que nunca mais esqueci. Em parte, e na sua diversidade, foram eles que me incutiram a paixão pela história e pelo passado.

O primeiro é sobre uma área na qual eu não faço investigação, a Roma Antiga, de um autor chamado Donald Dudley e intitulado Roman Society. É uma narrativa total (política, institucional, social, económica e cultural) da civilização romana desde as origens até à queda do Império. Li-o no primeiro ano do curso e fiquei deslumbrado.

O segundo trata da Idade Média: é o clássico de Georges Duby As Três Ordens ou o Imaginário do Feudalismo.

O terceiro explica, em grande parte, como se fez a Europa Moderna, como ela prosperou e como pode – e isso está hoje a ver-se – entrar em declínio: é o livro de E. L. Jones, O Milagre Europeu.

Finalmente, já no último ano do curso, apreciei muito a forma e a substância d’A Civilização da Europa das Luzes, do Pierre Chaunu.

Hoje, sou um fã da historiografia dita anglo-saxónica: o Niall Ferguson, o Paul Johnson, o Tony Judt e outros.

O livro da sua vida é…

Mais do que difícil, essa é uma questão impossível de responder. Eleger um é excluir… todos os outros, excelentes. Deixe-me fugir ao âmbito das leituras “profissionais” e escolher um pequenino livro do Paul Auster, chamado Timbuktu. Quando o li pela primeira vez, há uns anos, marcou-me muito como lição, ou parábola, sobre a vida, a entrega ao outro e a amizade. O enredo gira em torno de um ser humano, William, um velho poeta anarquista da América dos anos 60, e do seu dedicado cão, Mr. Bones. Talvez seja preciso gostar de animais, e ter um cão (é o meu caso) para apreciar o livro, mas vale mesmo a pena lê-lo: é absolutamente magnífico, e uma ótima escapatória para fazer uma pausa entre leituras mais densas ou mais difíceis.

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