Recordando a entrevista… ao Professor Doutor Henrique Sousa Antunes

O tempo passa, as boas memórias ficam
Professoras e professores da UCP recordaram livros e leituras no âmbito da iniciativa “Os Melhores Livros. As Melhores Leituras” promovida pela Livraria UCP entre 2013 e 2015. Algumas dessas entrevistas são agora recuperadas pela UCP Editora.

Recordando a entrevista… ao Professor Doutor Henrique Sousa Antunes, Professor Associado da Faculdade de Direito da UCP.

De onde vem o gosto pela leitura?

É um gosto que vem da dinâmica familiar. Sou filho único e por essa razão é fácil fazer com que o livro se torne o nosso melhor amigo, desde que sejamos incentivados para tal. Eu fui. Tive de facto a fortuna de receber, desde pequeno, como prenda de eleição O Livro. Ainda hoje conservo os meus livros infantis.

Conto uma história engraçada: há uns anos atrás, a minha filha, que ainda é pequena, recebeu o seu primeiro livro das mãos da avó, comprado na mesma livraria, em Luanda, onde o meu avô adquirira o primeiro livro da minha mãe. Na nossa família há, pois, um genuíno apreço pelo livro.

Quais foram os escritores e os livros que o marcaram?

Na idade juvenil fui, como tantas gerações, leitor das aventuras de Os Cinco. Fui também leitor do Tintim, do Astérix e ainda da banda desenhada de Walt Disney, na versão, então, brasileira.

Na adolescência cheguei aos clássicos, a Tolstói, Dostoiévski, Máximo Gorki, Gabriel García Márquez ou Kafka. Guerra e Paz, Crime e Castigo, A Mãe, Cem Anos de Solidão, O Amor nos Tempos de Cólera e O Processo estão entre os meus livros de eleição. E cheguei aos clássicos portugueses, designadamente a Eça de Queirós, autor que todos os natais recebia em livro de coleção. Li, senão toda, quase toda a literatura de Eça, nesta incluindo a tradução de As Minas de Salomão.
Durante tal fase da minha vida gostei, também, de experimentar autores menos frequentados pelos jovens da minha geração, como Michel Tournier e Carlos Fuentes.

Acompanharam-me, ainda, Milan Kundera, Oscar Wilde, George Orwell e Aldous Huxley. Foram todos livros e escritores que tiveram a sua marca no seu tempo.

Qual é o livro da sua vida?

Há dois aspetos que orientam, em especial, a escolha das minhas leituras: a condição humana e o ambiente da narrativa, seja ele geográfico ou temporal. É isso que me faz apreciar romances históricos, designadamente sobre o Império Romano ou sobre o Antigo Egito.

Em registos diferentes li, com agrado, Colleen McCullough e Christian Jacq. Neste contexto, refiro aquele que será, porventura, o livro da minha vida: as Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar. A escritora, para quem o livro tanto exigiu e significou no seu percurso literário, imprime ao relato autobiográfico do Imperador Adriano uma estética notável. Adriano expõe a riqueza da humanidade no relato da sua própria vida, descrevendo a juventude, o início da atividade política e as suas relações pessoais, e refletindo sobre a morte. Em suma, tocou-me a visão profundamente humana e sentida do registo biográfico a duas mãos, à luz das condições exteriores que condicionam a experiência individual de Adriano. Nessa fusão histórica da escritora com o biografado e na reflexão sobre a essência da vida encontro as razões da minha escolha.

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