Desde o princípio da reflexão cristã que o conceito de carne teve uma semântica vasta e, muitas vezes, díspar. Os primeiros Concílios da Igreja são disso uma prova, assim como todas as lutas contras as mais variadas heresias. Foi São Justino quem usou pela primeira fez o termo Encarnação: (Apologia Prima Pro Christianis, n.º 32). Depois disso, foi longo, e fecundo, o caminho até ao Concílio de Calcedónia. Michel Henry faz uma oportuna inversão da Fenomenologia e define, desde L' Essence de la Manifestation, sua primeira grande obra, conceitos importantes de corpo, individualidade, subjetividade, afetividade, imanência, ipseidade. A imanência, anterior à transcendência, é manifestada na subjetividade; a subjetividade é a possibilidade de sentir, de se constituir pelo sentir-se afetado; a imanência é a essência da transcendência (L' Essence de la Manifestation, p. 309). A primeira imanência é a afetividade, esse sentir-se afetado, sentir-se a si mesmo sem medição, dado em si, sem experiência prévia, como manifestação, automanifestação. A influência de Mestre Eckhart é muito presente: quem quiser contemplar Deus, deve ser cego (Tratados e Sermões, p. 226). Toda a mediação é desnecessária para se ter acesso a si mesmo, é a experiência da Vida que se manifesta e funda cada Si, é a Verdade, é a arqui-subjetividade que se revela na Carne como matéria fenomenológica pura. Única em cada Homem na unicidade de cada pathos, como Parusia do Absoluto, da Vida absoluta que não é um conceito, uma abstração (Incarnation, p. 193), mas uma experiência fenomenológica na qual se é surpreendido como Vivente, participante desse Primeiro Si Vivente (Paroles du Christ, p. 107), que é o Verbo Encarnado. A Encarnação do Verbo é a geração na carne de Deus e a revelação de Deus na carne (Ibidem, p. 106).
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