O movimento jansenista que, durante dois séculos, perturbou fortemente a Igreja, foi um movimento complexo e multiforme: heresia e partido de oposição, programa de reforma e interpretação fundamen-talista do augustinismo. Chegou a Portugal tardiamente e em circunstâncias político-eclesiásticas es-pecíficas. Alimentou-se sobretudo de três fontes: a francesa (galicana), a italiana e a flamenga. A ma-triz francesa é a mais poderosa e está representada pelos autores mais representativos do movimento cujas obras se encontram nas bibliotecas portuguesas. De Itália chegaram até nós os ecos do sínodo de Pistoia, na Toscana. As suas Actas, repletas de galicanismo, jansenismo, febronianismo e richeris-mo tiveram livre curso no nosso país. Mas não se reduziu a isso a influência do jansenismo italiano: PietroTamburini, José Zola e João Baptista Guadagnini são citados por autores nacionais, como Lucas Tavares e Antonio Soares Barbosa, entre outros. A influência flamenga veio por meio do teólogo janse-nista Ioannis Opstraet cuja obra de teologia pastoral, Pastor Bonus, foi traduzida para português. Além de Opstraet, outros autores jansenistas (Nicole, Pascal, Le Maitre de Sacy… etc.) foram traduzi-dos para a nossa língua. Sem deixar de provocar algumas reacções anti-jansenistas, o movimento afirmou-se, sobretudo, no período que vai de Pombal até á revolução de Setembro (1836). Daí em diante foi-se diluindo, não sem deixar como herança um forte pendor rigorista que se fazia sentir designadamente na pregação e na moral dos sacramentos.
Índice
Prefácio
Introdução
PRIMEIRA PARTE
I. Augustinismo heterodoxo. O jansenismo em Portugal
1. Um debate teológico
2. Quesnel e a bula Unigenitus
3. Preocupações jansenistas acerca dos Mestres de Teologia
4. Graça e predestinação no P. António Pereira de Figueiredo
5. Jansenistas ou iluministas católicos?
6. As “teses” jansenistas de António Álvares
A. Da necessidade da graça
B. A dupla deleitação
C. Da graça eficaz
D. Da predestinação gratuita
E. Sorte das crianças que morrem sem o batismo
7. Um jansenista assumido: Lucas Tavares
A. Natureza do poder da Igreja
B. O conceito de primado
8. Um tratado jansenista sobre a usura
II. Documentos
1. Mémoire au sujet des études ecclésiastiques du Royaume de Portugal
2. O pensamento teológico do P. António Pereira de Figueredo
A. Sobre a predestinação gratuita (Ad. Rom. Cap. VIII, v. 28 ss.)
B. Sobre a graça eficaz por si mesma
C. Sobre A Vontade Salvífica Universal (Carta de S. Paulo a Timóteo, Cap. 1, v. 4)
D. Sobre o Destino das Crianças que Morrem sem Batismo
3. D. João Cosme da Cunha e o Catecismo de Montpellier
4. Cartas para Dupac de Bellegarde e Censura da Tentativa Theologica
A. Cartas para Dupac de Bellegarde
B. Censura do Reverendíssimo Padre Mestre Fr. João Batista de S. Caetano, Procurador-Geral da Sagrada Ordem de S. Bento, e Doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra
5. As “teses” de António Álvares
6. Apologia do Catecismo sobre a Graça de Mr. Feydeau por Lucas Tavares (1817)
7. Censura do Catecismo do Bispado do Funchal, ano de 1813
A. Resposta do Censor, Lucas Tavares
8. Consideração da morte para evitar o “monstro” da usura
9. A “Resposta” do P. Cardoso nas Nouvelles ecclésiastiques
SEGUNDA PARTE
I. Jansenismo regalista e ultramontanismo
1. Conflito jurisdicional ou confronto de ideologias? O Bispo de Coimbra, D. Francisco de Lemos, e a Faculdade de Teologia
A. Conflito jurisdicional
B. Um confronto de ideologias
C. A Dedução Theologica
D. Os efeitos da bula Unigenitus: os Apelantes
II. Documentos
A. Censura feita pelo Ex.mo Snr. Bispo Conde às Theses do P.e (D. José de Jesus Maria) Conigo Regrante de Santa Cruz, depois de serem aprovadas pela Congregação da Faculdade Theologica da Universidade de Coimbra em 1796
B. Reação da Faculdade à censura episcopal
C. Copia da carta do Bispo de Coimbra ao Secretário de Estado Jose de Seabra da Silva sobre a censura que tinha feito a umas conclusões da Repetição do Conigo Regrante em Coimbra D. Juizo sobre as quinze Proposições das Theses do P. D. Joze de Jesus Maria Conigo Regrante do Collegio Novo de Coimbra que forão censuradas pelo Ex.mo e Rev.mo Bispo Conde feito pelo Dezembargador e Bibliotecario Maior da Real Bibliotheca Antonio Ribeiro dos Santos
E. Dedução Theologica
F. Estado do livre-arbítrio depois do pecado quanto ao uso e exercício
1. Do jansenismo regalista de D. Fr. Inácio de S. Caetano
A. A situação do clero
B. A luta contra o probabilismo e o molinismo
C. As teses académicas
D. A corrente rigorista: sacramento da Penitência
E. A dilação da absolvição e a admissão à Eucaristia
F. Atricionista ou contricionista?
G. D. Fr. Inácio, anti-Ilustração
H. O regalista
I. O poder da Igreja relativamente aos livros
III. Jansenismo. Augustinianismo
1. Um lente jansenista da Universidade de Coimbra – António Soares Barbosa
A. O tradutor
B. Os dois amores e as duas cidades: Jerusalém e Babilónia
C. Outras traduções
D. Quem traduziu o Catecismo sobre a Graça de Mathieu Feydeau?
2. Jansenismo tardio no Oratório de Estremoz
A. Análise de O Grito da Verdade. Eclesiologia
B. Compelle intrare: Pierre Bayle e Santo Agostinho
C. Um ataque ultramontano: A Contra-Mina
3. Augustinianismo no convento dos gracianos de Évora
A. A terceira tese
B. As teses nas Nouvelles ecclésiastiques
C. Augustinianismo rígido: Noris, Bellelli e Berti
IV. Jansenismo francês num códice da Biblioteca Nacional de Portugal
1. Gabriel Gerberon e a Defesa da Igreja Romana contra as calúnias dos Protestantes (calvinistas)
V. Documentos
A. Instrucção sobre as promessas feitas por Jesus Christo à sua Igreja
B. Les/ Entretiens/ De/ Dieu-donné/ Et de/ Romain/ Ou/ Explication/ De la/ Doctrine chretienne/ Touchant/ La Predestination de la Grace
C. O Pelagianismo
D. Juizo exacto da Crença Catholica comparada com os sentimentos dos Protestantes e Pelagianos acerca do Mysterio da Predestinação e Graça de Jesus Christo
E. Regras que se devem seguir nas contestações presentes sobre as verdades catholicas
F. Dialogo entre Teotimo e Filopista sobre a concordia da Graça com o livre arbitrio
VI. Presença do jansenismo italiano
1. Pedro Tamburini: Análise do livro das Prescrições de Tertuliano
A. A Escolástica invadiu a doutrina revelada
B. Uma tradução manuscrita
C. Documento (Prefacçaõ do Traductor)
2. Ecos e reflexos do Sínodo de Pistoia
A. Doutrinas erróneas
B. José Morato e o Sínodo de Pistoia
C. O Bispo de Angra e a doutrina jansenista das indulgências
D. Fr. Possidónio Estrada e o Traité des Superstitions de J. B. Thiers
VII. Dois autores antijansenistas
1. O antijansenismo de D. Fr. José da Assunção
A. O projeto do jansenismo
B. Conclusão
2. António Pereira e a Teologia de Lião
A. O que é a Teologia de Lião?
B. A tese do P. António Pereira
C. A tese nas Nouvelles ecclésiastiques
D. Refutação da Teologia de Lião
E. Conclusão
VIII. Literatura jansenista traduzida em português
1. O Bom Pastor de João Opsträet
A. Estrutura da obra
2. A Ciência da Salvação, de Pierre Nicole
3. O espírito de Mr. Nicole
4. A Bíblia de Royaumont
5. Avisos e reflexões sobre o estado religioso
6. Catecismo de Montpellier
7. Verdadeira ideia da conversão do pecador
8. Practica do Sacramento da Penitência
9. Um tratado jansenista sobre as indulgências
10. Disposições para os sacramentos da Penitência e da Eucaristia
11. A Teologia Moral de António Godeau, Bispo de Vença
12. Blaise Pascal: Pensamentos sobre a Religião e outras matérias
IX. Anexo
1. Autores jansenistas em livrarias episcopais
A. Livraria de D. Francisco de Lemos
B. Livraria de D. João de Magalhães e Avelar
C. Livraria de D. Frei Francisco de S. Luís Saraiva
2. Autores jansenistas em colégios universitários
A. Livraria do colégio de S. Pedro (Coimbra)
B. Livraria do colégio de S. Tomás
3. Autores jansenistas nos Seminários de Teologia
A. Seminário Maior do Porto
B. Seminário Conciliar de Braga (hoje Faculdade de Teologia)
C. Seminário de Évora
Bibliografia
Índice onomástico
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