O corte artificial entre a razão e a fé, protagonizado pela «modernidade», que acabou por excluir o religioso do âmbito da razão, precisa de dar lugar a uma racionalidade alargada, que tem a ver com todas as expressões da inteligência humana na busca da verdade: a razão lógica, a beleza como expressão profunda da realidade humana, a fé como adesão ao mundo do divino e da transcendência do homem. Sendo sobrenatural, a fé é uma atitude profundamente humana, que não pode ser alheia à racionalidade, concebida como capacidade de procurar e acolher a verdade. Os próprios crentes, não sendo capazes de realizar essa síntese entre a fé e a razão, tornaram-se corresponsáveis por esse divórcio, consagrado pela «modernidade». Aprofundar a racionalidade da fé é aspecto importante da evangelização dos próprios cristãos. Mas a vida da Igreja é também resposta aos ensinamentos e problemas do momento presente. Durante este Ano Pastoral, fomos interpelados por um dos mais sérios confrontos entre a Igreja e a sociedade, o referendo sobre o aborto, a pedido da mulher grávida, em instituição oficial ou oficializada de saúde. Tocando numa dimensão da ética fundamental do ser humano, o respeito pela vida, que a moral da Igreja interpreta de forma absoluta, considerando a dignidade do ser humano desde o momento da concepção até à morte natural, era inevitável que o magistério da Igreja afirmasse, claramente, no contexto do debate público que isso provocou, a doutrina da Igreja.
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