Abrimos a edição de Humanística e Teologia, com as palavras do Papa Francisco na sua viagem à Ilha de Lesbos, em 16 de abril de 2016. “Esta é uma viagem marcada pela tristeza. Vamos encontrar a maior catástrofe humanitária depois da II Guerra Mundial. Vamos encontrar – e vê-lo-emos – tantas pessoas que sofrem, não sabem para onde ir, tiveram de fugir. E iremos também a um cemitério – o mar –, dadas as inúmeras pessoas que nele se afogaram. […] Obrigado por me acompanhardes.” Queremos, a nosso modo, acompanhar esta romagem a um lugar e a um tempo de angústia e de sofrimento. Primeiramente, queremos fixar o nosso olhar na pessoa dos nossos semelhantes em dificuldade. Não ignoramos o conflito de interpretações sobre o fenómeno dos refugiados. Mesmo assim, queremos ir além da tribulação exposta no rosto de multidões que chegam, queremos navegar na complexidade da razão e observar os refugiados e migrantes num solo comum da Vida, modo de proceder em que nos inspiramos no pensamento de Michel Henry. Assim, esperamos pôr a teologia ao serviço da solução de uma tragédia. A palavra do Papa Francisco faz-nos recuar a outra palavra que a Escritura coloca na boca de Deus dirigida ao ser humano mergulhado no abismo da culpa: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4, 9). A memória da culpa está sempre na origem da ação: acorda e mobiliza. A questão atual dos refugiados necessita de ser pensada pela teologia e de ser olhada pela humanidade que somos. Os principais textos do dossier da edição que agora chega às suas mãos pretendem pensar teologicamente este assunto de atualidade inadiável. Provêm de um evento científico que teve lugar bem longe da Europa, no Congresso Anual da Faculdades EST de São Leopoldo, RS, Brasil. Ao Grupo de Pesquisa em Fenomenologia da Vida agradecemos a valiosa contribuição para pensar um assunto que a todos diz respeito. Aos leitores desejamos que, ao lerem, possam fazer seu o bom momento que lá se viveu em setembro de 2016.
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