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A experiência cristã está marcada pela imprevisibilidade e pelo risco. Isto foi especialmente sentido na Idade Média mais tardia, durante a qual a imagem de Deus subjacente à experiência religiosa continha em si os contornos do imprevisível e do inseguro, pois ao crente ninguém podia dar a certeza de estar salvo, sempre exposto à gratuidade da graça. O que foi sentido pela teologia na Idade Média corresponde ao núcleo essencial do querigma cristão e vale, por conseguinte, também para hoje. O querigma proclama que a salvação é oferecida a todos os homens, pois Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (cf. Tim 2,3). Tendo como referência, entre outras, as figuras bíblicas da arca de Noé e da barca de Pedro, a teologia patrística via a Igreja como espaço seguro de salvação. Deve-se a S. Cipriano de Cartago o célebre axioma salus extra eclesiam non est e o Concílio Vaticano II proclama que a Igreja é sinal eficaz e lugar seguro onde a salvação pode encontrar-se (LG 8). No entanto, a Igreja não garante a ninguém a salvação, pois esta é um dom de Deus e não uma certeza adquirida. Ninguém pode ter a certeza de um desfecho positivo da própria existência. Vivemos na esperança, não na certeza da salvação. A soteriologia está marcada por esta incerteza e radical insegurança. Mais do que estar certo da salvação, o cristão deve humildemente invocar a graça de ser contado entre os eleitos. O presente estudo, um ensaio de soteriologia narrativa, pretende ser um contributo para dar razões da esperança. O movimento da incerteza à esperança evoca a trajectória da existência humana enquanto tal e também do risco abissal do amor, mesmo do humano e divino morrer de amor, onde o sentido da vida se decide. Introdução
Capítulo 1 - A problemática soteriológica
1.1. A crítica contemporânea à linguagem teológica
1.2. A origem da preocupação soteriológica e os seus impasses
Capítulo 2 - Configuração histórica da soteriologia
2.1. Soteriologia descendente
2.1.1. Santo Ireneu
2.1.2. Santo Atanásio
2.1.3. S. Gregório de Nazianzo
2.2. Soteriologia ascendente
2.2.1. Santo Agostinho
2.2.2. Santo Anselmo de Cantuária
2.2.3. S. Tomás de Aquino
Capítulo 3 - O movimento da soteriologia na teologia moderna
3.1. A espiritualidade da reparação
3.2. A teologia da libertação
3.3. Esboços de um enquadramento sistemático da soteriologia
Capítulo 4
Propostas de solução da questão soteriológica
4.1. K. Rahner
4.1.1 A perspectiva soteriológica da teologia
4.1.2. A crítica à soteriologia de K. Rahner
4.1.3. Soteriologia e teologia trinitária
4.1.4. A teologia da morte como uma questão soteriológica
4.2. H. U. von Balthasar
4.2.1. A soteriologia no quadro da Teodramatica
4.2.2. Uma aproximação antropológica ao mistério da morte
4.3. Ensaio de solução da questão soteriológica – a noção de substituição/representação
Bibliografia
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